"O mundo do faz de conta lado a lado com a realidade"

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

CONTOS DE MELISSA - por José Renato Salatiel

Há poucos dias, levei um susto ao descobri que o cara que foi o maior incentivador para que o Mundo Fabuloso ganhasse vida e construísse uma identidade “legal e bacana” pela internet, decidiu pôr um ponto final no seu site LARANJA MECÂNICA, fechando um ciclo de comprometimento e interatividade entre alunos e blogueiros.

Uma ausencia significativa tanto de conhecimento quanto de sua sagacidade ao desenvolver textos bem humorados e abastecidos de fatos históricos e informações ultramodernas, como esse lance de web 2.0, e por aí vai. Um “professor” que é inspiração e exemplo, como aquele do filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, sabe? E que me obriga, com o maior prazer, a registrar sua colaboração no MF, já que cortamos o cordão umbilical desde o semestre passado e parece que essa distância tende a aumentar cada vez mais por motivos profissionais.

De qualquer forma, é com alegria que reapresento um post que rolou no LARANJA, em agosto deste ano, e que continua atualíssimo, até então, representando a publicidade de maior audiência e um dos índices mais significativos por buscas de termos, aqui no Mundo Fabuloso. Trata-se de um anúncio que faz parte da campanha Contos de Melissa, que foi analisado com doses de humor, e com base em estudos da Teoria da Informação.

Vamos conferir!


CHAPEUZINHO VERMELHO, A HISTÓRIA QUE A VOVÓ NÃO CONTOU


por José Renato Salatiel

Chapeuzinho quem diria. Sabem aquela história da Chapeuzinho Vermelho? Todos conhecem. Mas sabiam que ela era uma garotinha na puberdade? E que não usava vermelho porque era simpatizante do PT, mas porque teve sua primeira menstruação? Pois é, daí o conselho de mamãe: cuidado com o Lobo Mau, que ele quer te COMER. E aí já viu, agora que o óvulo pode ser fecundado, isso não vai dar certo. Assim, aquela menininha ingênua e inocente (leva doces, lembram?) se embrenha na mata (os mistérios químicos da adolescência) na esperança de chegar a salvo na casa da vovó (a segurança da Família). E aquele lobo que tinha tudo GRANDE... Ai, que meda

O Lobo se deu bem.

Saquem só a peça. O Lobo numa Harley Davidson "envenenada", pura potência e instinto. A Chapéu levando... champanhe! E vestindo cinta-liga. Com certeza eles não estão indo pra casa da vovó. Eu nem vou falar dos coelhinhos e dos cogumelos no canto inferior direito que é covardia.

Babado teórico

O discurso persuasivo da publicidade tem sua eficácia em uma dosagem certa de taxas de REDUNDÂNCIA e RUÍDO na mensagem. Precisamos de uma certa taxa de originalidade para chamar atenção do consumidor/receptor, para que ele perceba a INFORMAÇÃO. Mas não podemos frustrar as expectativas de previsibilidade a ponto da mensagem se perder no ruído, em outras palavras, não ser compreendida. Como fazemos isso? Trabalhando a redundância, aquilo que o consumidor/receptor já sabe, que faz parte do seu REPERTÓRIO.

Na peça em questão (na verdade, em toda campanha)foi usado o estoque inesgotável dos contos infantis. Todos conhecem a história da Chapéu, certo? A informação, a originalidade, está nesta versão pouco convencional. Qual o objetivo? Mostrar que a "melissinha" (criada em 1979) não é mais tão inocente assim. Afinal de contas, ela tem Orkut e sabe usar o Google. A mensagem do anúncio é: "Esqueça o bla-bla-bla da mamãe-Chapéu. Compre Melissa e seja mulher. Fique com o Lobo Mau, sem medo!" (ora, na cestinha ela leva algo além da campanhe). Para a turma de Semiótica, é a mesma mensagem daquele famoso comercial da Valisére.

Notem que, diferente do discurso estético, que lança mão do ruído para resignificar códigos e abrir diferentes caminhos interpretativos - incomodar o receptor - no discurso persuasivo o objetivo é convencer, dar um sentido único, levar ao lugar-comum da sociedade de consumo. Todos já sabíamos que a história iria acabar assim.

E olha só a cara de felicidade da Chapéu!

José Renato Salatiel
Jornalista e Docente. Doutorando em Filosofia (PUC-SP) e Mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP). Atua nas áreas de Teorias da Comunicação, Semiótica, Novas Mídias, Jornalismo Impresso, Pragmatismo e Teoria do Conhecimento.


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