"O mundo do faz de conta lado a lado com a realidade"

terça-feira, 13 de novembro de 2007

A BORRALHEIRA DE CHARLES PERRAULT

Cinderela ou Borralheira é uma história enganadoramente simples e que compartilha da mesma popularidade que Chapeuzinho Vermelho. Um conto que vai direito ao ponto e que é reconhecido hoje em dia em diversas versões, entre elas, a que deriva de Charles Perrault e outra dos irmãos Grimm. Essencialmente, trata-se de uma trama que fala de sofrimento e rivalidade, de desejos que se tornam realidade, dos humilhados que são exaltados, da virtude recompensada e da maldade que é castigada.

A Borralheira por Perrault é adocicada e detentora de uma ingenuidade que chega a irritar, uma heroína sem nenhuma iniciativa. Em seu conto é ela própria quem decide dormir entre as cinzas, fato que deu origem ao seu nome, veja: Quando terminava o trabalho, ia para um canto da lareira e se instalava entre as cinzas”. Esse tipo de autodesvalorização não existe na história dos irmãos Grimm.

Estudos mostram que muitos elementos foram negligenciados na versão elaborada por Perrault, que se despojou de passagens que considerava vulgar e refinou o restante para que o conto pudesse ser exposto na Corte de Versales, para a qual prestava serviços. Sendo ele um autor de bom gosto e grande habilidade, inventou novos detalhes e modificou outros tantos para que ficassem de acordo com as concepções estéticas esperadas pela realeza.

O pé é capaz de mudar uma vida. Lembra da Cinderela?

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tipo: revista titulo: O pé é capaz de mudar uma vida. Lembra da cinderela? redação: Ana Reber direção de arte: Paulo Pretti, Luter Filho direção de criação: Carlos Domingos, Paulo Pretti artebuyer: Tomaz Valentim produção gráfica: Rita Vilarim agência: age. Comunicações anunciante: ADD produto: Institucional mídia: Thiago Ferraz e Kelly Toledo fotografia: Marcelo Arruda ilustração: Melissa Lagoa aprovação: Karina Mosmann


Um exemplo dessas mudanças credita-se ao episódio do fatídico sapatinho ser de cristal, o que só ocorre em variantes que derivam da história escrita por Charles Perrault. No trabalho de Bruno Bettelheim, A Psicanálise dos Contos de fadas, uma explicação é apresentada para esse significativo detalhe que compromete toda a estrutura da história, marcando, a partir de então, um divisor no conto da Borralheira. A controvérsia ocorre entre duas palavras que parecem ter confundido Perrault. Em francês os termos vair (que significa peles variadas) e verre (cristal ou vidro) possuem pronuncias semelhantes. Com isso, acredita-se que ouvindo a narrativa a partir populares, ele tenha se atrapalhado com as palavras e substituído por engano um sapatinho que seria de pele, por um de vidro. Uma invenção não tão inusitada para um conto de fadas, porem que teve que desprezar uma importante seqüência presente em versões anteriores, que mostra o canto dos passarinhos chamando a atenção do príncipe para a mutilação dos pés das irmãs postiças.

Com pés cortados e apertados, Esta cavalga com o rei,

Enquanto na cozinha se escondem, Pés formosos e elegantes.”

Se os sapatinhos fossem mesmo de vidro, o príncipe não precisaria ter sido avisado pelos pássaros sobre as marcas de sangue presente nos pés das moçoilas. Sangue esse, que como na versão escocesa intitulada de Rashin Coatrê, surge como conseqüência da ação protagonizada pela madrasta, que consegue a força calçar os sapatos nos pés das filhas, cortando os dedões de uma, o calcanhar de outra. Uma grosseira mutilação que não estaria de acordo com a idéia de Perrault, em produzir uma história totalmente polida da face de Borralheira.

3 comentários:

Lorreine Beatrice disse...

olá! Achei interessante você tem comentado que a Cinderela de Perrault tem um ar passivo e de submissão. Se a gente olhar, as novas versões da Cinderela - inclusive na Publicidade - vem com um caráter mais ousado de desafiador, sem deixar de aproveitar o romantismo clássico.

Roderico P. Franco disse...

Olá, pow master quando é q vc vai destacar os contos árabes, q são os melhores? O blog tá muito "europeizado", q são contos mais infantis. Os contos árabes são mais "pauleira", falam de ladrões (Ali Babá), etc.

Só para te encher, rsrsrs. Tem novas no blog T+

Anônimo disse...

Ah...Contos de Fadas, como eu os amo!
Cresci ouvindo e, muitas vezes descobrindo-os sozinha, sempre os amei, mas...Apenas agora, depois de "velha", que descobri sua verdadeira beleza.
Alias não faz muito tempo que li "A sereiazinha" de Hans Christian Andersen.
E é de se surpreender, afinal, não conhecia até então a linda estória verdadeira que foi inspiração para Walt Disney...

Enfim...É a primeira vez que visito o blog e realmente me agradou mais do que qualquer outro!

Desejo uma boa noite! =*