"O mundo do faz de conta lado a lado com a realidade"

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

:: QUE PRA CRIANÇA QUE NADA(!)


Espelho, espelho meu.

por Lorreine Beatrice


Quem acompanha o Mundo Fabuloso já deve ter percebido que o conto de fadas não nasceu como um produto destinado ao público infantil.

Muito antes de ser uma literatura para preencher a infância de castelos e bosques, os contos de fadas eram uma expressão popular, que passava de geração em geração, através da tradição oral. Em uma ligação estrita com os mitos, tais narrativas demonstravam a sensibilidade das civilizações primitivas em relação às suas próprias experiências e às coisas que as cercava.

Um jeito bem criança de descobrir o mundo, não é? Com as ciências ainda pouquíssimo desenvolvidas, os povos buscavam e organizavam seu conhecimento sobre a realidade através da intuição e da sensibilidade, algo bem distante do pensamento iluminista – um dos grandes movimentos a colocar a razão como ferramenta fundamental para se entender o mundo.

Talvez por isso os contos de fadas se aproximaram tanto das crianças. Além do jeito de ver o mundo com olhos curiosos e sensíveis, vale lembrar que essas narrativas tratam ainda de problemas essencialmente humanos, presentes em qualquer fase da vida, inclusive na infância.

Você não verá um conto de fadas falando de desemprego nem de aquecimento global. Mas os contos de fadas falam sim sobre medos, perdas, (auto)descobertas, encontros e despedidas. Mesmo numa abordagem considerada por muitos como simplista, o conto de fadas tem essa capacidade de gerar identificação instantânea e de fazer, especialmente a criança, olhar para dentro de si e compreender, quase que inconscientemente, certos processos e etapas humanas.

Não é à toa que os contos de fadas são estudados pela psicologia, psicanálise, filosofia e por tantas outras ciências humanas. Acabo de descobrir que a Pós-Graduação de Arteterapia da Universidade Católica de Salvador (Ucsal) tem uma disciplina sobre a análise dos contos de fadas. Bacana, né? E tem gente que ainda acha que conto de fadas é coisa apenas de criança.

Só pra constar: Uma primeira referência a narrativas destinadas às crianças é, segundo Marie von Franz, o mythoi, conjunto de histórias simbólicas que as mulheres da Grécia Antiga contavam aos filhos.

Lorreine escreve para o Mundo Fabuloso todas as quintas-feiras na seção “Espelho, espelho meu”.

e-mail: lorreinebeatrice@gmail.com



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