"O mundo do faz de conta lado a lado com a realidade"

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

:: SOBRE TENTATIVAS E DEFINIÇÕES


Espelho, espelho meu.
por Lorreine Beatrice

Definir os contos de fadas parece ser mais fácil do que roubar doce de criança, certo? Errado. Você pode até tentar: bem, são aquelas histórinhas, tipo assim, Cinderela, Branca de Neve... sempre têm príncipe, princesas (ah, claro!) e final feliz. Mas as narrativas que acompanham a humanidade há séculos não são definidas como uma receita de bolo, com duas colheres de farinha e ponto final.

Se o universo das narrativas fantásticas tivesse surgido com um big bang, tal “explosão” seria certamente o imaginário popular. Foi através deste imaginário que nasceram histórias contadas ao redor das fogueiras, passadas de geração em geração. Elas originaram poemas, fábulas, lendas e outros tantos “astros-narrativos”. Não é à toa que o pó estelar que restou desta “explosão” faz parte de nosso repertório de histórias até hoje.

Apesar de muita gente igualar os contos de fadas às demais narrativas fantásticas, alguns estudiosos dizem que há diferenças, sim! É como se cada grãozinho tivesse se agrupado de diferentes maneiras, formando diferentes tipos de discurso.

Acredita-se que o conto de fadas tem origem celta (aliás, este foi o primeiro povo, ao menos o primeiro que nossos registros revelam, a admitir a existência das lendárias personagens conhecidas por f-a-d-a-s!). Além disso, os contos de fadas têm uma abordagem mais existencial. Os heróis têm um “q” de filósofos: através de provas a serem vencidas, querem entender o mundo, buscam a felicidade plena e a própria auto-realização.

Isso é um bocado diferente das narrativas da coletânea de Mil e Uma Noites, por exemplo, que também tem princesas e finais felizes. Só que são de origem oriental e enfatizam, originalmente, o âmbito material e sensorial do indivíduo, vivenciado em situações cotidianas.

De todo jeito, é mesmo difícil entender onde começa uma coisa e onde termina outra, já que ambas vieram da mesma “matéria estelar”. Neste anúncio, da Lemni & Scata Comunicação, a gente percebe uma referência clara à cultura oriental na imagem, mas o texto está bem “a la” conto de fadas, hein? É claro que o anúncio faz parte de uma campanha ainda maior e merece ser comentado de forma mais profunda, mas neste momento, ele ilustra bem a situação.

Assim como o surgimento do universo, os contos de fadas são mais complexo do que a gente imagina. Qualquer definição precipitada acaba por confundir e limitar esse conjunto de histórias que faz, bem ou mal, parte da nossa vida e que continua sendo reinventado, até hoje.

Dica de Leitura: O Conto de Fadas, de Nelly Novaes Coelho, Editora Planeta.

contato:lorreinebeatrice@gmail.com

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